4.01.2010

rua dos desencontrados

foi na rua dos desencontrados
que acharam a gemer
um filho meu que por engano,
que por ser negro, por ser cigano,
foi da sua mãe nascer.

que encontraram gemendo
se não um desmamado bezerro
rangendo, confiscando
de mim, o seu próprio perdão?

ah, que nasceste sem faca,
e ninguém se abeirou de navalha
para te logo servir o pão!
só foste nesta dita noite mal parido,
por num maldito dia teres sido feito.
que dar a esta mulher,
se lhe emprenhei um desafortunado no colo,
e lhe engravidei uma dor no peito?
se tem já leite no seio,
vendo-lhe um beijo e um receio
e salda-me as dívidas com gratidão.

não cobro despesas para que leia,
para que tenciono um gaiato letrado,
se depois me cospe versos de eruditos?
prefiro amordaçar-lhe a boca com medos,
antes que rime o seu bom palavreado
com os meus autoritários gritos.
irá querer rapinar-me o tabaco aos dezasseis,
mas por agora sei que apenas se benze,
para que a hora tarde a chegar aos treze.
se é do meu bolso que a esmola vem,
que se amamente dos seios de moça qualquer,
pois eu volvi homem ao roubar de minha amante
o leite que não cobrei de minha mãe.

9 comentários:

David Pimenta disse...

'Voltaste' !

susana disse...

Parabéns pelo novo ar do blog, está muito bonito!
ps. sempre com palavras lindas

Rafaela disse...

Espectacular! Parabéns! :)

Beatriz disse...

muito muito obrigada. gosto do novo "ar" do blog

C. disse...

e viv'ó poeta!

(tenho uma proposta para te fazer: carolinarita@live.com.pt)

Unknown disse...

www.dontcalljude.blogspot.com :D

Mel disse...

Já tinha saudades das tuas palavras:D

Mel disse...

vou seguir-te**

inês disse...

gosto imenso do blog. as tuas palavras são fortes, boas de se ler. parabéns :)